Quando um jornalista “cobre” um acontecimento, a maneira como ele vê este acontecimento é, por si só, parcial. O jornalista realiza um trabalho de gatekeeper, ou seja, coloca-se diante do acontecimento como um “keeper” (guarda) que só deixa passar pela “gate” (portão) de entrada do jornal aquilo que ele quer. Este trabalho sofre, portanto, a influência da cultura e dos valores do jornalista, além de ter interferência da política editorial da empresa para a qual ele trabalha. Como já dizia o teórico Warren Breed, existe uma organização e um controlo social nas redacções que faz com que os jornalistas trabalhem sem questionar a política editorial dos jornais.
Quando o assunto nos Media são os imigrantes ou as minorias étnicas, esta parcialidade torna-se ainda mais evidente. Como refere outro teórico, Teun A. Van Dick, “os acontecimentos e as acções podem ser descritos com variações sintácticas que são a função do envolvimento subjacente dos actores. Assim, na análise dos relatos dos media sobre os “motins” durante uma manifestação de minorias étnicas, a responsabilidade das autoridades e especialmente da polícia nessa violência pode ser sistematicamente secundarizada através da desfocalização, por meio de construções passivas e nominalizações”.
A comunidade africana no mundo tem, por muitas vezes, sido alvo desta “desfocalização”. Em Portugal, por exemplo, quando encontramos grupos de africanos que escolheram a Praça do Rossio, em Lisboa, para diariamente se reunirem, à primeira vista fica difícil compreendermos o que esses africanos estão lá a fazer. Uma visão simplista, e até mesmo preconceituosa deste fenómeno, pode criar uma imagem negativa do mesmo. Daí o porquê de, neste momento, o jornalista tomar o máximo de cuidado para não se deixar influenciar e procurar investigar as causas da concentração das comunidades africanas em determinados locais da cidade.
Na visão do sociólogo Viegas Bernardo, “Esses locais de concentração da comunidade africana servem de referência para quem acaba de chegar na cidade e procura alguém da sua nacionalidade”, explica o sociólogo.
Agora, com a nova lei da nacionalidade, Portugal está a atravessar outro momento histórico. E para que a sociedade portuguesa saiba acolher e integrar os chamados imigrantes de segunda geração (filhos de imigrantes que nasceram em Portugal), os Media, mais uma vez, não podem esquecer o seu papel.
Os Meios de Comunicação de Massa devem ter muito cuidado com o seu discurso, analisando-o criticamente e não abusando do poder social que lhes foi imputado. Também é importante que os Media tomem atenção ao reproduzirem a dominância e a desigualdade social que, infelizmente, sabemos existir. Como, mais uma vez, refere Van Dijk, “A maior parte do nosso conhecimento social e político e das nossas crenças sobre o mundo deriva das dúzias de relatos noticiosos que lemos ou vemos todos os dias. Talvez não haja prática, para além da conversação quotidiana, que seja tão frequentemente exercida e por tantas pessoas como o são as notícias da imprensa e da televisão”. Por isso, não podemos deixar que as notícias sejam um produto modelado pelas forças políticas, económicas e culturais que nos rodeiam. Não podemos deixar que as notícias enfatizem a imagem negativa das minorias e dos imigrantes e, com isso, contribuam para formas crescentes de intolerância, preconceito e discriminação.
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