A temática crime ainda é uma constante quando se fala de imigração em Portugal
Por Juliana Iorio
Realizou-se ontem (dia 25 de Novembro), em Lisboa, uma conferência intitulada “Media e Imigração”, organizada pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), órgão presidido pela Alta Comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse.
Esta conferência, que aconteceu no edifício da Representação da Comissão Europeia, contou com a presença do Presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social em Portugal, José Azeredo Lopes e do Ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira.
Pedro Silva Pereira lembrou que, apesar da política pública dever promover os interesses dos imigrantes, “não podemos exigir que os meios de comunicação social partilhem desta política pública”. Para o Ministro da Presidência, “o dever dos meios de comunicação de massa é informar seguindo as regras deontológicas”. Mesmo que, para isso, tenham que dar “más” notícias. “As “más” notícias não têm que ser necessariamente más para a política de integração de imigrantes”, continuou.
Pedro Silva Pereira lamentou a temática crime ser uma constante quando se fala de imigração em Portugal e disse que considera necessária uma presença mais activa da comunidade imigrante na sociedade portuguesa.
Por Juliana Iorio
Realizou-se ontem (dia 25 de Novembro), em Lisboa, uma conferência intitulada “Media e Imigração”, organizada pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), órgão presidido pela Alta Comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse.
Esta conferência, que aconteceu no edifício da Representação da Comissão Europeia, contou com a presença do Presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social em Portugal, José Azeredo Lopes e do Ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira.
Pedro Silva Pereira lembrou que, apesar da política pública dever promover os interesses dos imigrantes, “não podemos exigir que os meios de comunicação social partilhem desta política pública”. Para o Ministro da Presidência, “o dever dos meios de comunicação de massa é informar seguindo as regras deontológicas”. Mesmo que, para isso, tenham que dar “más” notícias. “As “más” notícias não têm que ser necessariamente más para a política de integração de imigrantes”, continuou.
Pedro Silva Pereira lamentou a temática crime ser uma constante quando se fala de imigração em Portugal e disse que considera necessária uma presença mais activa da comunidade imigrante na sociedade portuguesa.
“O preconceito ainda existe em Portugal”
Sobre o tema “A Deontologia e a Ética Profissionais no Tratamento Informativo da Imigração”, discutiram personalidades como José Alberto Carvalho, Director de Informação da Rádio e Televisão de Portugal – RTP e Rui Hortelão, Director Adjunto do Diário de Notícias – DN, um dos jornais de referência em Portugal.
Segundo José Alberto Carvalho, o discurso público, em geral, acontece no sentido de dar as “boas vindas” aos imigrantes. No entanto, “o que acontecerá quando cidadãos imigrantes, muitas vezes com altos níveis académicos, mas que hoje desempenham funções muito aquém das suas habilitações, começarem a desempenhar funções compatíveis com as suas habilitações? Será que a sociedade portuguesa está preparada para isto?”, indagou. Para o Director de Informação da RTP, o preconceito ainda existe em Portugal. “Em muitas situações de crime, não faz sentido identificar a nacionalidade dos criminosos. São criminosos e basta. Se formos identificar a nacionalidade de uns, teremos que identificar de todos, sempre, inclusive dos portugueses”, salientou.
José Alberto Carvalho criticou ainda o facto de os jornalistas utilizarem as fontes oficiais de informação como fontes onde a verdade é absoluta.
Rui Hortegão reconheceu que houve uma evolução no tratamento dos media, no que diz respeito à imigração, mas afirmou que, enquanto em 2002, o tema mais abordado pelos jornais de referência em Portugal, no que concerne a imigração, era o trabalho, em 2005 esse tema passou a ser a criminalidade. Por isso, deixou um recado, “em tempos de crise temos que ter muito cuidado com o que se está a passar”.
“Portugal é um país acolhedor mas é, fundamentalmente, hipócrita…”
No segundo painel desta conferência o tema abordado foi “O Papel dos Media na Formação da Opinião Pública: temática da Imigração”. Isabel Ferin, investigadora e autora de vários estudos sobre “Media e Imigração”, o advogado e comentador televisivo António Vitorino e o professor universitário, e também comentador, Marcelo Rebelo de Sousa, foram os nomes que apimentaram ainda mais essa discussão.
Isabel Ferin também se mostrou preocupada quando o imigrante, hoje associado à pobreza, passar a ser associado com a classe média em Portugal. “Como será a reacção da sociedade e dos media?”, questionou. Para esta investigadora, a televisão portuguesa é um elemento de coesão (na medida em que trata “bem” o assunto da imigração nas chamadas “grandes reportagens”) mas, ao mesmo tempo, de des-coesão social (na medida em que trata “mal” o assunto da imigração nas notícias do quotidiano.
A nomeação da etnia foi outro problema levantado por Isabel Ferin. “Quando não se cita a etnia, inventa-se”, referiu. “Parece que temos que dar a impressão que há bem e mal em todo o lado. Portugal é um país acolhedor mas é, fundamentalmente, hipócrita, porque nada se fala frente-a-frente”, concluiu.
António Vitorino começou sua intervenção dizendo que “falar de imigração pode ser uma generalização perigosa”. Segundo este advogado, “não podemos homogeneizar todos os imigrantes”.
Além disso, António Vitorino disse que, a comunicação social portuguesa possui ideias solidificadas, que não são verdadeiras, e que, portanto, devem ser desconstruídas. Por exemplo, “é falsa a ideia de que a maioria dos imigrantes que entra em Portugal entra ilegal. A maioria entra legal e depois é que se torna ilegal porque fica para além do tempo que lhe é permitido. Mas devemos salientar que eles podem entrar por qualquer país da comunidade europeia”. Desse modo, a ideia de que o controle de fronteiras é a maneira mais eficaz para controlar a imigração ilegal acaba por ser, nessa perspectiva, também um ideia falsa. O advogado também fez referência à “abusiva” associação entre imigração e criminalidade e disse ser falsa a ideia de que os imigrantes são concorrentes e retiram postos de trabalhos dos portugueses: “É certo que os imigrantes se prestam a papéis que os portugueses não prestariam e que isso, de facto, prejudica os portugueses. Mas também é prejudicial para os imigrantes. Portanto, não podemos permitir que isso aconteça”, salientou. Concluiu lembrando que a população portuguesa não vê com bons olhos quando um imigrante conquista algo porque “se nós, portugueses, não temos direito, porque os imigrantes hão de o ter?”.
“A culpa é dos media”
O professor Marcelo Rebelo de Sousa disse que o que falta à Portugal é não saber relacionar o facto de ter sido um país de “emigração” com o facto de ser hoje um país de “imigração”. E isso, salientou, “é culpa dos media”. O professor lembrou também que os imigrantes estão excluídos da vida política do país e que quando um país como a Angola começar a tomar conta da economia portuguesa “muita gente irá acordar”. Por fim, disse que “só no dia em que as telenovelas começarem a tratar de forma natural estas questões, as pessoas começarão a absorvê-las”.
Na plateia intervieram personalidades como o Presidente da Casa do Brasil, Carlos Viana, e a jornalista da Globo News, Adriana Niemeyer.
Carlos Viana aproveitou a presença de um representante do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalista de Portugal para pedir satisfações sobre uma falsa notícia publicada no jornal português “Correio da Manhã” que alegou que o PCC (Primeiro Comando da Capital) havia se instalado no país. “Isso ficou provado não ser verdade e nada foi feito a esse respeito”, referiu. Além disso, alertou para uma “segregação de estrangeiros” que é feita, todos os dias, nos aeroportos portugueses, considerando-se, apenas, os aspectos físicos e a proveniência dessas pessoas.
Adriana Niemeyer citou os casos de dois textos, alusivos ao Brasil, publicados pelo DN que, apesar de falarem positivamente do país, continham fotos depreciativas (nestes casos, de policiais armados). “Será que não há, nos arquivos dos jornais, fotos positivas que ilustrem o Brasil?”, indagou.
Outros intervenientes, sobretudo de associações portuguesas, alertaram para o facto de que, as associações sempre divulgam o que fazem mas isso nunca é notícia para os media. Segundo o Director Adjunto do DN, “muitas vezes essas notícias não nos chegam”. Entretanto, segundo as associações presentes, o material é sempre enviado e se o jornal não o publica é porque não tem interesse.
Por fim, o professor Marcelo Rebelo de Sousa fechou esta conferência com duas afirmações que dão o que pensar:
“Portugal é um país sem tradição democrática e plural, que descobriu isso há 30 anos”.
“Não sei se a imigração, assim como a lusofonia, são prioridades na sociedade portuguesa”.
Sobre o tema “A Deontologia e a Ética Profissionais no Tratamento Informativo da Imigração”, discutiram personalidades como José Alberto Carvalho, Director de Informação da Rádio e Televisão de Portugal – RTP e Rui Hortelão, Director Adjunto do Diário de Notícias – DN, um dos jornais de referência em Portugal.
Segundo José Alberto Carvalho, o discurso público, em geral, acontece no sentido de dar as “boas vindas” aos imigrantes. No entanto, “o que acontecerá quando cidadãos imigrantes, muitas vezes com altos níveis académicos, mas que hoje desempenham funções muito aquém das suas habilitações, começarem a desempenhar funções compatíveis com as suas habilitações? Será que a sociedade portuguesa está preparada para isto?”, indagou. Para o Director de Informação da RTP, o preconceito ainda existe em Portugal. “Em muitas situações de crime, não faz sentido identificar a nacionalidade dos criminosos. São criminosos e basta. Se formos identificar a nacionalidade de uns, teremos que identificar de todos, sempre, inclusive dos portugueses”, salientou.
José Alberto Carvalho criticou ainda o facto de os jornalistas utilizarem as fontes oficiais de informação como fontes onde a verdade é absoluta.
Rui Hortegão reconheceu que houve uma evolução no tratamento dos media, no que diz respeito à imigração, mas afirmou que, enquanto em 2002, o tema mais abordado pelos jornais de referência em Portugal, no que concerne a imigração, era o trabalho, em 2005 esse tema passou a ser a criminalidade. Por isso, deixou um recado, “em tempos de crise temos que ter muito cuidado com o que se está a passar”.
“Portugal é um país acolhedor mas é, fundamentalmente, hipócrita…”
No segundo painel desta conferência o tema abordado foi “O Papel dos Media na Formação da Opinião Pública: temática da Imigração”. Isabel Ferin, investigadora e autora de vários estudos sobre “Media e Imigração”, o advogado e comentador televisivo António Vitorino e o professor universitário, e também comentador, Marcelo Rebelo de Sousa, foram os nomes que apimentaram ainda mais essa discussão.
Isabel Ferin também se mostrou preocupada quando o imigrante, hoje associado à pobreza, passar a ser associado com a classe média em Portugal. “Como será a reacção da sociedade e dos media?”, questionou. Para esta investigadora, a televisão portuguesa é um elemento de coesão (na medida em que trata “bem” o assunto da imigração nas chamadas “grandes reportagens”) mas, ao mesmo tempo, de des-coesão social (na medida em que trata “mal” o assunto da imigração nas notícias do quotidiano.
A nomeação da etnia foi outro problema levantado por Isabel Ferin. “Quando não se cita a etnia, inventa-se”, referiu. “Parece que temos que dar a impressão que há bem e mal em todo o lado. Portugal é um país acolhedor mas é, fundamentalmente, hipócrita, porque nada se fala frente-a-frente”, concluiu.
António Vitorino começou sua intervenção dizendo que “falar de imigração pode ser uma generalização perigosa”. Segundo este advogado, “não podemos homogeneizar todos os imigrantes”.
Além disso, António Vitorino disse que, a comunicação social portuguesa possui ideias solidificadas, que não são verdadeiras, e que, portanto, devem ser desconstruídas. Por exemplo, “é falsa a ideia de que a maioria dos imigrantes que entra em Portugal entra ilegal. A maioria entra legal e depois é que se torna ilegal porque fica para além do tempo que lhe é permitido. Mas devemos salientar que eles podem entrar por qualquer país da comunidade europeia”. Desse modo, a ideia de que o controle de fronteiras é a maneira mais eficaz para controlar a imigração ilegal acaba por ser, nessa perspectiva, também um ideia falsa. O advogado também fez referência à “abusiva” associação entre imigração e criminalidade e disse ser falsa a ideia de que os imigrantes são concorrentes e retiram postos de trabalhos dos portugueses: “É certo que os imigrantes se prestam a papéis que os portugueses não prestariam e que isso, de facto, prejudica os portugueses. Mas também é prejudicial para os imigrantes. Portanto, não podemos permitir que isso aconteça”, salientou. Concluiu lembrando que a população portuguesa não vê com bons olhos quando um imigrante conquista algo porque “se nós, portugueses, não temos direito, porque os imigrantes hão de o ter?”.
“A culpa é dos media”
O professor Marcelo Rebelo de Sousa disse que o que falta à Portugal é não saber relacionar o facto de ter sido um país de “emigração” com o facto de ser hoje um país de “imigração”. E isso, salientou, “é culpa dos media”. O professor lembrou também que os imigrantes estão excluídos da vida política do país e que quando um país como a Angola começar a tomar conta da economia portuguesa “muita gente irá acordar”. Por fim, disse que “só no dia em que as telenovelas começarem a tratar de forma natural estas questões, as pessoas começarão a absorvê-las”.
Na plateia intervieram personalidades como o Presidente da Casa do Brasil, Carlos Viana, e a jornalista da Globo News, Adriana Niemeyer.
Carlos Viana aproveitou a presença de um representante do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalista de Portugal para pedir satisfações sobre uma falsa notícia publicada no jornal português “Correio da Manhã” que alegou que o PCC (Primeiro Comando da Capital) havia se instalado no país. “Isso ficou provado não ser verdade e nada foi feito a esse respeito”, referiu. Além disso, alertou para uma “segregação de estrangeiros” que é feita, todos os dias, nos aeroportos portugueses, considerando-se, apenas, os aspectos físicos e a proveniência dessas pessoas.
Adriana Niemeyer citou os casos de dois textos, alusivos ao Brasil, publicados pelo DN que, apesar de falarem positivamente do país, continham fotos depreciativas (nestes casos, de policiais armados). “Será que não há, nos arquivos dos jornais, fotos positivas que ilustrem o Brasil?”, indagou.
Outros intervenientes, sobretudo de associações portuguesas, alertaram para o facto de que, as associações sempre divulgam o que fazem mas isso nunca é notícia para os media. Segundo o Director Adjunto do DN, “muitas vezes essas notícias não nos chegam”. Entretanto, segundo as associações presentes, o material é sempre enviado e se o jornal não o publica é porque não tem interesse.
Por fim, o professor Marcelo Rebelo de Sousa fechou esta conferência com duas afirmações que dão o que pensar:
“Portugal é um país sem tradição democrática e plural, que descobriu isso há 30 anos”.
“Não sei se a imigração, assim como a lusofonia, são prioridades na sociedade portuguesa”.
1 comentário:
Ju, sabes o que penso... a fachada não tem limites... por isso tive de re-emigrar... é um país solidario, sim, ms para dentro, não para fora... penso que a maioria das pessoas não aceita a diáspora interna e a diversidade cultural... fer
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