quarta-feira, outubro 06, 2010

Como foram as eleições brasileiras 2010 no segundo maior colégio eleitoral fora do Brasil?

Após a loucura do primeiro turno das eleições brasileiras, no último Domingo, seguido de um feriado prolongado em Portugal (o feriado foi na Terça, mas muita gente aproveitou para "emendar" com a Segunda-feira), chegou a hora de fazermos um balanço de como correram as eleições brasileiras em Portugal.

Pouco mais de 4 mil brasileiros (33,5%), ou seja, apenas 1/3 dos brasileiros cadastrados para votarem em Lisboa (Portugal) o fizeram no último dia 3 de Outubro. A candidata do Partido dos Trabalhadores (PT), Dilma Rousseff, foi a mais votada com um resultado (divulgado às 19h00 deste mesmo dia e sujeito a aprovação do Tribunal Superior Eleitoral - TSE) de cerca de 57% dos votos válidos. O candidato José Serra, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ficou em segundo lugar, com cerca de 29% dos votos válidos, e a terceira colocada foi Marina Silva, candidata do Partido Verde (PV), com cerca de 15% dos votos válidos.

Na cidade do Porto os resultados não foram muito diferentes. Cerca de 35,5% dos cadastrados compareceram às urnas, e destes, 58% votaram na candidata do PT; 27,9% no candidato do PSDB e 12,9% na candidata do PV.

Em Portugal, os brasileiros tiveram direito a escolher, somente, o Presidente da República, e as votações aconteceram também somente na capital Lisboa e na cidade do Porto. Mas este ano, diferentemente dos anos anteriores, não foram realizadas nem na Embaixada do Brasil em Lisboa, nem no Consulado Geral do Brasil no Porto; mas sim na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e no Hotel Ipanema Porto.

Como no Brasil, as eleições realizaram-se das 8h00 às 17h00 (horário de Lisboa), através do sistema de urna electrónica.

Em Lisboa, 31 sessões estavam preparadas para receber os mais de 12 mil cidadãos brasileiros cadastrados. Apesar de, nestas eleições, o número da comunidade brasileira cadastrada para votar em Lisboa ter triplicado, quando comparada às últimas eleições, apenas 1/3 daqueles que se cadastraram compareceram às urnas.

Francisco Oliveira
As 8h05 os portões da Faculdade de Direito abriram para o início das votações. Apesar do mau tempo, nesta hora havia mais de 100 pessoas na fila. Francisco Oliveira foi o primeiro a chegar. Natural do Rio de Janeiro, Francisco está em Portugal há 29 anos. Vive na cidade de Mafra, há cerca de 50 quilómetros de Lisboa, e chegou às 6h10 porque “ainda tinha muitas coisas para fazer”. Massagista de profissão, este brasileiro disse que veio para Portugal para “melhorar de vida”. “Vim, deu certo e acabei por ficar. Não estou rico, mas estou quase”, salientou com bom humor. Questionado sobre o que o levou a votar, Francisco respondeu: “primeiro porque é obrigatório, e depois porque é um dever cívico”.

Nair Souza Lima chegou às 6h15 e foi a segunda da fila. Natural de Governador Valadares (Minas Gerais), esta cabeleireira está em Lisboa há 8 anos, mas é a primeira vez que vota em Portugal. “Eu sempre votei no Brasil porque apesar de não estar mais lá, os meus ainda estão. Mas em Março deste ano fui ao Consulado do Brasil em Lisboa e transferi o meu título de eleitor para cá. Foi fácil! Após 3 meses recebi o novo título”, enfatizou.

De acordo com a legislação brasileira, o cadastramento eleitoral de brasileiros que residem em Portugal teve que ser encerrado 150 dias antes das eleições. Por isso, no período compreendido entre 6 de Maio deste ano e até a apuração do término destas eleições, o cadastramento está suspenso. Deste modo, os brasileiros que residem em Portugal, mas não se cadastraram no período permitido, não puderam votar e terão de justificar a ausência nos próximos sessenta dias. Isto aconteceu com Edson e Roseli Alencar. Eles chegaram às 6h30, foram os terceiros da fila, mas não puderam votar porque não haviam transferido o título de eleitor para Portugal. Naturais de Curitiba, vivem em Lisboa e culparam o Consulado do Brasil em Lisboa pelo ocorrido. “Não sabia que tinha que transferir o título para cá”, afirmou Edson. “Fui ao Consulado e nunca me explicaram isso lá. Só disseram que eu teria que trazer um documento de identificação”, continuou Roseli.

Já Francisco não encontrou nenhum tipo de problema para votar. “Está tudo muito bem sinalizado e funcionando perfeitamente. Só demorei mais porque não tinha certeza em quem votar… Mas, no final, acabei optando pela Marina”, confessou.

23.182 brasileiros encontram-se cadastrados para votar em Portugal. Pouco mais de 12 mil em Lisboa e quase 11 mil no Porto (segundo dados do TSE). Os brasileiros que votam em Lisboa vivem nas regiões centro e sul do País, para além das ilhas da Madeira e dos Açores; e os que votam no Porto residem na região norte de Portugal. Trata-se do segundo maior colégio eleitoral fora do Brasil, só ficando atrás dos Estados Unidos.
Adilson Pereira

Outro brasileiro que fez questão de exercer o seu direito ao voto foi Adilson Pereira. Este carioca, que já está em Portugal há 10 anos, levou amarrado junto ao corpo a bandeira brasileira, como forma de demonstrar as saudades que sente da sua pátria. “O voto é um direito, e é um dever de cada brasileiro eleger aquele que irá tomar conta do nosso país”, enfatizou. Adilson vive em Almada, há cerca de 15 quilómetros da capital, onde trabalha como pedreiro, e revelou que, “agora, com as oportunidades que estão surgindo no Brasil, pretendo voltar para lá no próximo ano”.

Com o decorrer do dia, a afluência de brasileiros que chegavam para votar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa foi aumentando, e as dificuldades inerentes à votação, como as filas por exemplo, começaram a aparecer. Por isso, por volta do meio-dia, foram afixadas listas com os nomes das pessoas e as respectivas secções, nas portas de entrada da faculdade. Mas a chuva, que intensificou-se durante a tarde, fez com que o movimento de brasileiros abrandasse e às 17h00, quando os portões da Faculdade de Direito fecharam, já não haviam muitas pessoas do lado de dentro. Entretanto, do lado de fora, alguns brasileiros ainda continuavam a chegar.

O balanço feito pelo Juiz eleitoral, o cônsul-geral do Brasil em Lisboa, Renan Paes Barreto, foi bastante positivo, pois não houve grandes filas e tumultos durante todo o dia, e as urnas eletrónicas funcionaram sem nenhum tipo de problema. A chuva, a proximidade com o feriado de Terça-feira (dia 5 de Outubro) em Portugal, o fato de terem sido mudados os locais das votações e o fato dos brasileiros que vivem longe de Lisboa e do Porto serem obrigados a votar nestas cidades, podem ter sido alguns dos motivos que fizeram com que muitos não comparecessem às urnas.
Agora, resta aguardar para ver como a comunidade brasileira que vive em Portugal irá participar no segundo turno destas eleições.

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