Uma reportagem escrita pela jornalista Branca Vianna e publicada na Revista brasileira "Piauí" discorre, ao longo de 6 páginas on-line, sobre o Jornalismo investigativo e a sua viabilidade nos dias de hoje. A reportagem na íntegra pode ser lida em:
http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao_49/artigo_1430/Caro_trabalhoso_chato.aspx , mas como trata-se de um texto bastante extenso, deixo-vos aqui alguns enxertos do que, ao meu ver, é o principal:
“O tipo de jornalismo que fiz a vida toda, com reportagens investigativas longas, de estilo narrativo, acabou.” (Steve Coll)
O motor da crise está na internet, que alterou tanto a maneira como a imprensa escrita obtém lucro quanto os hábitos de leitores e anunciantes.
Os classificados garantiam a sobrevivência dos jornais não só pelo seu peso na receita, mas também pela pulverização que representavam. Junto com os anúncios do comércio local, eles garantiam o equilíbrio das contas, caso o jornal perdesse um ou outro anunciante de grande porte. Com os anúncios publicados em sites, através da Internet, isso acabou.
É por isso que Steve Coll acha uma falácia debater se os leitores devem ou não sustentar os jornais pagando pela leitura on-line. “Leitor nunca sustentou jornal. Eram os classificados e os anunciantes que o faziam”, ele disse. E tanto um como o outro foram atraídos para a internet.
A crise se instalou. A companhia que controla o Los Angeles Times e outros jornais tradicionais, como o Chicago Tribune, pediu concordata. O Washington Post, cuja margem de lucro caiu 25% nos últimos cinco anos, sobrevive subsidiado pela Kaplan, empresa de materiais didáticos pertencente ao mesmo grupo. O New York Times, com uma queda de 50% na margem de lucro, foi obrigado a tomar um empréstimo a juros altos do bilionário mexicano Carlos Slim. A revista semanal Newsweek, que no ano passado perdeu 30 milhões de dólares, foi vendida para o milionário Sidney Harman por 1 dólar (mais as dívidas). A circulação da mídia impressa caiu 30% em um par de anos. Calcula-se que 26 mil jornalistas tenham perdido o emprego desde 2008. As áreas que mais sofreram foram o jornalismo investigativo e a cobertura internacional. Apesar disso, “A elite intelectual nunca teve tanta informação de qualidade à disposição”, disse. “Todos os grandes jornais e revistas do mundo estão on-line e vão sobreviver. O drama é o desaparecimento da mídia local, pois isso significa que a classe média perdeu as fontes de informação qualificadas. Antes, todo mundo via o noticiário principal da televisão, e lia na Time ou na Newsweek a versão resumida do que saía nos veículos mais sofisticados – isso além de ler sempre os jornais locais. Hoje o que a classe média consome são as notícias policiais, as fofocas da tv aberta e a gritaria partidária dos canais a cabo. É muito difícil governar com seriedade um país com uma população desinformada.”( Gerry Marzorati)
“O jornalismo investigativo é o ramo mais importante para o funcionamento de uma democracia – e o que mais está em risco”. (Steiger) Investigações jornalísticas são trabalhosas, caras, demandam tempo e nem sempre rendem reportagens publicáveis. Pode se passar meses escarafunchando um assunto e não conseguir material suficiente. A maioria exige viagens e algumas requerem mais de um repórter trabalhando em tempo integral. As reportagens podem levar semanas, meses ou anos para ficar prontas. Também costumam ser bem mais longas do que as matérias comuns, o que, no mundo do Twitter, lhes reduz o número de leitores em potencial. Neste contexto, a imprensa regional tem sido a maior vítima da crise. Para Susan White, os jornais regionais “cometem suicídio” ao incentivar os repórteres a escrever “o mesmo tipo de matéria curta e superficial” que caracteriza a internet e a televisão.
“Matérias investigativas tratam de assuntos delicados, requerem checagem cuidadosa de todos os fatos e de todas as fontes. Tudo passa pelos advogados, o que aumenta o custo. Hoje, são poucas as organizações jornalísticas capazes de arcar com um projeto assim.” (Gerry Marzorati). (Nos Estados Unidos, todas as reportagens e artigos que lidam com fatos polêmicos passam por avaliação jurídica, como precaução contra processos.)
Jesse Eisinger, repórter financeiro da Pro Publica, acha que as redações menores, as locais, vão todas fechar, mas não só por falta de financiamento. Há outro motivo: a falta de leitores. “A verdade é que jornalismo investigativo não é popular nem entre anunciantes, nem entre leitores,” disse. Só raramente aparece um assunto empolgante como Watergate ou Abu Ghraib. Em geral, são temas que as pessoas preferem ignorar. “É um jornalismo difícil de fazer e chato de ler,” disse Eisinger.
A imprensa americana começou a esboçar uma reação. Os jornais que ainda têm dinheiro estão investindo pesado em seus sites. O New York Times cobrará pelo acesso on-line a partir de janeiro de 2011. A empresa estima que o nytimes.com perderá 20 milhões dos seus atuais 22 milhões de leitores quando a cobrança for instituída. O Times de Londres fechou seu site aos não pagantes em julho. O jornal não revela números, mas calcula-se que tenha perdido entre 80% e 90% dos leitores on-line.
Um dos poucos consensos é que a era do jornal de papel está próxima do fim. Pode ser muito difícil convencer o leitor a gastar dinheiro com o site de jornal que ele acessa de graça há dez anos. No entanto, é considerado natural pagar por serviços móveis, como sms, ringtones, chamadas de voz e caixa postal. Os aplicativos disponíveis no iPhone provam que o consumidor não se incomoda em pagar por novos serviços que lhe pareçam importantes. A esperança é que incluam nessa categoria os seus jornais e revistas prediletos.
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