terça-feira, abril 26, 2011

“O retorno dos imigrantes brasileiros ainda é uma questão muito recente”

Por Juliana Iorio
(reservado os direitos de autor)

As conclusões preliminares de um estudo intitulado “Novas Tendências das Migrações no Brasil: retorno e políticas migratórias”, foram apresentadas no último dia 18, no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa. Segundo Durval Fernandes, professor da PUC de Minas Gerais, “a questão do retorno dos imigrantes brasileiros ainda é uma questão muito recente”. Em entrevistas realizadas à imigrantes brasileiros que retornaram para algumas cidades do interior de Minas Gerais, a maior parte das respostas obtidas foi, “lá (no exterior) eu tinha dois empregos e agora, devido a crise, só tenho um. Logo, não consigo mais viver lá”.

Outra questão apontada pelos “retornados” foi que o objetivo desta emigração foi, na sua grande maioria, “para construir a minha casa e, quem sabe, mais uma para alugar. Agora, com a crise, isto também está cada vez mais difícil”.

Por outro lado, este estudo também constatou que aqueles que voltam para o Brasil precisam ter um apoio governamental para se reintegrarem na sociedade e fixarem-se no país. No entanto, para Durval, “as autoridades locais e federais ainda não despertaram para esta nova realidade”. Segundo o professor, “por enquanto, somente o caso dos imigrantes brasileiros que estavam no Japão e retornaram, chamou a atenção do Governo, devido ao fato destes estarem voltando com muito dinheiro”. Avalia-se que 50 mil, dos 320 mil brasileiros que viviam no Japão, já retornaram ao Brasil.

O caso português

Em Portugal, um inquérito realizado em 2009, com 1400 imigrantes brasileiros descobriu que 35,3% destes pretendem retornar para o Brasil. No entanto, Carolina Nunan, professora e investigadora da PUC de Minas Gerais, que está estudando “a crise económica e o retorno dos imigrantes brasileiros em Portugal”, lembrou que, “o retorno não é uma questão simples. A decisão de voltar é muito mais complexa do que se imagina, pois envolve uma série de fatores que não têm a ver diretamente com a crise”.

Em entrevistas realizadas à brasileiros que ainda encontram-se em Portugal, Carolina já obteve depoimentos como, “Para quem é imigrante, já é tão difícil sair do país de origem. Acho que precisa pensar muito antes de regressar também”, ou ainda, “Há uma infinidade de fatores, que não estritamente o emprego, o econômico, que influenciam as decisões. As decisões das pessoas dependem de mais coisas, de afeto, se os meninos estão estudando, se têm amigos...

No entanto, ressaltou que, a taxa de desemprego dos estrangeiros, e sobretudo da população brasileira que se encontra em Portugal hoje, é superior a dos portugueses.

Para Renan Paes Barreto, Cônsul Geral do Brasil em Portugal, “é possível afirmar que aquela imigração indiscriminada de brasileiros para Portugal seja pouco provável de voltar a acontecer. Mas, a medida que a economia europeia se reestabilizar, eu vislumbro uma imigração mais setorializada.

"Voltar ou Não Voltar", eis a questão!
O que dizem os brasileiros que ainda estão em Portugal?

Romário Fernandes de Almeida (38) emigrou pela primeira vez em 1998, quando decidiu ir para a Grécia. “Fiquei poucos meses lá, tive dificuldade em me adaptar, pois a língua é terrível”, explicou. No entanto, ao invés de retornar ao Brasil, optou por “experimentar Portugal”. Nunca regressou ao Brasil e hoje vive em na cidade de Rio de Mouro, próximo à Sintra, em Portugal. “Ainda não voltei ao Brasil porque tenho um trabalho fixo, já estou efetivo há 7 anos, a minha esposa é portuguesa e tenho um filho com 5 meses”. Romário trabalha como soldador e disse que a esposa tem muito medo da violência no Brasil. “Já ganhei muito dinheiro aqui, mas hoje está difícil até para comer! Na minha profissão nem é tão mal assim, mas as empresas aproveitam-se da “crise” e já não aumentam o salário há 3 anos”, continuou. “Se ficássemos desempregados iríamos embora sim, porque tenho trabalho garantido no Brasil, para ganhar o mesmo que ganho aqui. Conheço, pelo menos, dois casais (um de Belo Horizonte e outro de Goiânia) e mais dois rapazes (um também de BH e outro de Rondônia) que já foram embora. Estão trabalhando, em bons empregos, e uns estão bem melhor do que estavam aqui”, concluiu.

O caso de Milene Prado (37) é um pouco mais complicado. Está em Portugal desde 2006 e atualmente encontra-se desempregada. Disse que gostaria de ir embora, mas como teve um filho com um cidadão de nacionalidade portuguesa, isso não a deixa voltar para o Brasil. “Sofro de preconceito perante o tribunal português”, salientou. Segundo ela, desde que decidiu que queria vir para o Brasil, já enfrentou 27 processos no tribunal português colocados pelo pai da criança. “Sofro porque queria visitar a minha família no Brasil, pelo menos durante 30 dias, e não me deixam”, explicou. “Mas um dia pretendo ir embora sim”, continuou. “Conheço muitos brasileiros da minha cidade, o Rio de Janeiro, que já foram embora e estão muito bem no Brasil”, concluiu.

A jornalista brasileira Caroline Soares (33) também afirmou já ter pensado em regressar ao Brasil, mas devido à problemas de saúde, ainda vive em Portugal. Caroline vive na cidade de Coimbra há 19 anos, mas há 8 sofreu um acidente de carro que deixou-a tetraplégica. Está desempregada e disse que não tem ideia de como, nem por onde começar. “Já fiz um estágio não remunerado, prometeram que iriam me contratar, mas ficou só na promessa. Também já escrevi um livro infantil, mas não consigo editá-lo. Preciso trabalhar não só para me sentir útil, mas porque a situação aqui em casa está péssima”, explicou. Questionada se não pensa em regressar ao Brasil, Caroline responde que já pensou em voltar inúmeras vezes e que isso já foi tema de conversa em sua casa. “Mas no Brasil talvez não encontre as condições que tenho aqui. Por exemplo, de manhã tenho apoio domiciliário, são umas senhoras que o Estado subsidia para virem me ajudar, e também tenho enfermeiras do Centro de Saúde que, caso eu precise, veem em minha casa gratuitamente. No Brasil, isso não existe”, salientou.
(Este texto obedece as regras do novo acordo ortográfico)

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