É certo
que o aumento de turistas tem levado muitos para as zonas menos
exploradas de Portugal. Não é só Lisboa que se tem “beneficiado” com isto. Dia
desses lí que uma aldeia, em Arcos de Valdevez (Região Norte), havia registado um “surto
turístico” nunca antes visto. No entanto, também é certo que com esse “boom”
turístico, as dificuldades que o comércio tradicional português tem enfrentado
para conseguir manter as suas tradições, estão a ser cada vez maiores. Ora
vejamos: Na referida aldeia, a tasquinha da “Tia Amélia” encontra-se em processo de ampliação, e a residência paroquial foi autorizada a instalar um restaurante, como "medida de contingência para acudir ao surto turístico”. Portanto, se
por um lado, estas alterações podem ser positivas, na medida em que irão
possibilitar mais estruturas aos turistas, e irão trazer mais dinheiro para a
aldeia, será que, por outro lado, isto não acabará por descaracterizar uma
aldeia considerada “monumento nacional”? Se aliarmos a isto o facto da
indústria nacional também ter muita dificuldade em disputar um espaço com as
indústrias que estão a vir de fora, um dos grandes “malefícios” do aumento do
turismo em Portugal pode ser o comércio tradicional português não conseguir competir, e sucumbir a padronização (como aliás já acontece em tantos
outros países com tradições turísticas). Hoje,
tanto faz estarmos em Lisboa ou em Berlim porque as lojas que encontramos são as
mesmas, a variedade entre o que elas oferecem é diminuta, a padronização é cada
vez maior, e o que é próprio (tradicional) de cada país cada vez mais caro e
raro de encontrar.
Além
disso, como as políticas de arrendamento, sobretudo em Lisboa, não têm
beneficiado os comerciantes tradicionais que se encontram nas zonas históricas,
casas icónicas do comércio tradicional lisboeta, como a pastelaria suíça, a joalharia Correia e a loja de decoração Ana Salgueiro já anunciaram que irão fechar as suas portas para, se calhar, dar lugar à um comércio que vêm de fora, e que
tende a descaracterizar o centro histórico desta cidade.
Foto: site da Pastelaria Suíça |
Para quem vem de fora, não conhece o que é genuinamente
português e, portanto, não tem parâmetros de
comparação, isto não é necessariamente mau. Por isso, mesmo antes de fecharem
as portas, muitas destas lojas já vinham perdendo, gradualmente, a qualidade…
Deixaram de ter a necessidade de agradar aos portugueses, uma vez que os
turistas tornaram-se os clientes principais. Logo, ter-se um comércio cada vez mais voltado para o turista pode significar que manter a tradição, e
os padrões de qualidade que isto exige, talvez já não faça muito sentido.
Por
exemplo, quem não conhece a gastronomia portuguesa, pode apreciar ou não
qualquer coisa que comer em Portugal, sem comer, de facto, algo genuinamente
português. Há ainda aqueles que, justamente por não a conhecerem, preferem não
arriscar, e hoje já conseguem encontrar muitas opções, como os diversos fast food e pizzarias espalhados pelo país. Perde-se, por
exemplo, a “Pastelaria do seu Zé”, e abre-se mais uma pastelaria Fast Food, voltada para turistas ou para aqueles que não têm memória.
Apesar de
estar aqui há “somente” 18 anos, já consigo notar uma grande diferença na
oferta, qualidade, e preços que são praticados hoje em Portugal. A oferta e os
preços aumentaram, mas a qualidade do que é oferecido nem sempre… Se para mim
isto tem sido percetível, para uma geração de portugueses que possui a memória
da diferença entre o doce d´ovos, o creme de pasteleiro, ou o chantilly que cada pastelaria produzia, imagino
que hoje seja fácil perceber que o “pré-fabricado” invadiu grande parte das
pastelarias portuguesas, não mais deixando nenhum diferencial entre elas. Será a morte do comércio tradicional português? Se sim, será que isso realmente interessa uma geração mais jovem (aquela que hoje pode fazer a diferença), que não têm a memória de "como foi"? Uma geração que tem aprendido que a globalização, a padronização, é sinônimo de cosmopolitismo?
Por Juliana Iorio
Jornalista Freelancer
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