Estive ontem na Primeira Edição do TEDxULisboa que, para quem não sabe, trata-se de uma série de conferências, já realizada em diversos países, destinada a disseminação de ideias (TED significa Technology, Entertainment, Design), que foi criada em 1984 por uma organização sem fins lucrativos, a Sapling nos Estados Unidos, para debater tecnologia e design. No entanto, com o tempo, os temas abordados por essas "talks" de no máximo 18 minutos, passaram a ser os mais variados possíveis, e, se calhar, é aí que está o "x" da questão (aliás, o "x", em TEDx, quer dizer que o evento é organizado de forma independente, o que, por um lado, dá mais liberdade para os países tratarem temas mais próximos das suas realidades, mas, por outro lado, pode desvirtuar-se, um pouco, da ideia original). A meu ver, o TEDxULisboa, ao tratar de temas como, a "aceitação da homossexualidade", "a manutenção da motivação para a superação de problemas", "a importância da improvisação na vida", "a solidão de jovens, adultos e idosos" e a "estereotipação da ciência e dos cientistas em Portugal", entre outros, deixa um misto de sentimentos:
- Por um lado, preocupa-me que esse tipo de debate, para mim tão básico e óbvio (mas admito que talvez sinta isso devido a minha idade) seja tão necessário (visto a quantidade de jovens presentes), e seja tão ovacionado por jovens que parecem terem ouvido determinados "clichês" (que, à mim, remetem à questões de bom senso ou de senso comum) pela primeira vez.
- Por outro lado, se, de facto, existe este "gap" na juventude, ainda bem que existem eventos como esse (na minha época a gente ia para psicólogo mesmo!).
É preciso, no entanto, diferenciar "bom senso" de "senso comum". Enquanto o último pode refletir uma opinião, que as vezes até pode estar errada ou carregada de preconceito, o primeiro está ligado a ideia de sensatez, ou seja, a capacidade intuitiva de distinguir a melhor conduta em determinadas situações. Resumindo, enquanto o "senso comum" acaba por ser o modo de pensar da maioria das pessoas, de uma comunidade, de uma sociedade, num determinado período de tempo (tendo como base o conhecimento adquirido pelo homem a partir das suas experiências, vivências e observações), o "bom senso", como disse Aristóteles " é o elemento central da conduta ética".
Neste contexto, pode-se dizer que o TEDx vem para debater o "senso comum", colocando em causa determinados paradigmas (o que não é mal, desde que se tenha cuidado com as ideias que são disseminadas e com quem as dissemina, ou seja, desde que não coloque em causa o "bom senso" das pessoas), mas acaba por debater, também, o "bom senso", ou seja, a conduta ética do que podemos ou não fazer, visto que, atualmente, estas condutas também passaram a ser questionadas (e, nesse aspecto, já não sei se isto é tão bom…)
Mas a questão de fundo aqui não é a capacidade dessas palestras fazerem com que os jovens pensem em ideias que possam alterar o "senso comum", mas sim, em ter que haver palestras como estas para fazer com que os jovens pensem e debatam sobre determinados assuntos, questionem o "senso comum", e "aprendam" a ter "bom senso".
A questão é o TEDx em Lisboa, e em 2019, parecer mais um evento de "autoajuda", não muito diferente de quando vamos à missa de um padre mais moderno nos dias de hoje, e o quanto estes jovens parecem precisar de ajuda. Ainda que toda a ideia de moral tenha advindo da religiosidade, como devido ao seu caráter utilitário esta ideia tornou-se secular (Max Weber), as demandas morais quando descumpridas passaram a despertar os sentimentos de culpa, ressentimento e autodesvalorização (Jessé Souza), e, ao que tudo indica, a humanidade ainda precisa de ajuda para lidar com isso.
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