segunda-feira, abril 04, 2011

Projecto brasileiro na área da cultura conquista Portugal

No final do ano passado fiz uma reportagem sobre um projecto interessantíssimo, a pedido de um órgão de comunicação para o qual trabalho como freelancer. No entanto, infelizmente, tal reportagem não foi publicada por alegada "falta de espaço". Deste modo, em consideração às pessoas envolvidas neste projecto, que tornaram esta reportagem possível, publico-a agora, no meu Blog!

Projecto brasileiro na área da cultura conquista Portugal
Por Juliana Iorio
(Texto protegido pelo Direito de Autor)

O ano passado Lisboa recebeu, pelo segundo ano consecutivo, o evento “Panorama Brasil-Portugal em Movimento”, uma conexão cultural que visa fortalecer e consolidar os laços que unem estes dois países, estimulando o intercâmbio cultural em língua portuguesa através da música, cinema, teatro e pintura, e envolvendo artistas e académicos de ambos países.

Diversas actividades foram realizadas em torno de temas como cidadania, cultura, linguagem e comunicação, com a proposta de reflectir, dialogar, envolver e mobilizar todos na sociedade.

Além de seminários, estendeu-se uma programação cultural com debates e apresentações de diversos projectos musicais, artísticos e culturais.

Como começou…

Duas mulheres, uma ideia e muita vontade! Estes foram os “ingredientes” necessários para que, em 2006, duas professoras, pesquisadoras e estudiosas dos movimentos socioculturais na Universidade de São Paulo (Rosana Martins e Maria Goretti Pedroso), criassem um evento, sem fins lucrativos, que ficou conhecido como “Panorama Brasil em Movimento – PBM”. A partir daí, um grupo de académicos, artistas, comunicólogos e educadores juntaram-se a causa e esta manifestação cultural brasileira tornou-se itinerante e internacional.

O primeiro país a receber este evento foi a Alemanha (Frankfurt), e em 2009, através de um intercâmbio com a Universidade Nova de Lisboa (UNL), Portugal também passou a fazer parte do roteiro, transformando-o em “Panorama Brasil-Portugal em Movimento”.

O ano passado, para além da UNL, este projecto aconteceu em diversos locais da cidade (Casa do Brasil, Casa da América Latina e na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro). São locais que aderiram a esta iniciativa de maneira informal, como, aliás, é a participação dos artistas que dela fazem parte.

A artista plástica Anna Guerra, curadora de Artes Visuais do PBM, revelou que todos os artistas que participaram na edição de Portugal o fizeram “de boa vontade”, ou seja, sem nenhum tipo de patrocínio ou ajuda de custo. Como membro da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro, Anna Guerra referiu que o evento em Portugal ainda não possui uma estrutura formalizada e que muito do que se faz “vai acontecendo por aderência dos interessados”. Trata-se de um evento que “caminha com as pernas de cada artista, sem recursos, e que, mesmo assim, tem conseguido crescer”, salientou.

Para Pedro Andrade, professor e investigador em sociologia da cultura na UNL, e membro da comissão científica deste evento em Portugal, “o que é importante salientar, é que trata-se de um evento intercultural, que pretende articular duas culturas, que muitas vezes não se conhecem, através de uma série de actividades nos campos dos media, artes e tecnologias”.

Anna Guerra lembrou que, além do interculturalismo, o tema do evento no ano passado abrangeu o papel dos media e das novas tecnologias. “A ideia é que este projecto se torne cada vez maior e aconteça uma vez por ano em diferentes países”, concluiu.

Evidenciando o papel da mulher…

Na música, um dos grupos que o “Panorama Brasil-Portugal em Movimento” destacou foi um grupo de hip-hop formado por mulheres de vários bairros da periferia de Lisboa, que lutam contra a discriminação, a violência doméstica, entre outras problemáticas que afetam a mulher na sociedade de hoje. Trata-se do grupo “Hip-Hop de Batom”.

Buscando por uma igualdade unânime e justa, este projecto foi patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian e hoje já possui 16 temas cantados em português, crioulo, francês e espanhol. A sua colectânea está prevista para sair em Junho de 2011 e, apesar de ser um grupo que ainda está começando, já conta com uma agenda “bastante recheada”.

Quanto a programação cinematográfica, foi dado destaque ao chamado “cinema periférico” produzido no Brasil, e, neste contexto, alguns documentários que falam sobre a presença da mulher neste tipo de cultura urbana, como “Rap de Saia, “Mães do Hip-Hop” e “Elemento Feminino”, foram enquadrados na programação.

Lia Thoma, uma das artísticas plásticas brasileiras que participa neste evento, explicou que, “nós queremos falar da mulher, da criminalidade e da questão racial, porque queremos que a temática fale sobre aqueles que são discriminados pelas sociedades em geral”. Lia vive em Frankfurt há 22 anos e lá organiza eventos culturais desde 2000.

Para Kika Goldstein, artista plástica paulistana que também participou no evento, tal temática foi pertinente porque, no meio artístico, quando o trabalho é realizado por uma mulher, esta tem mais dificuldade em ser reconhecida. Entretanto, declarou que, “felizmente”, esta mentalidade está começando a mudar…

Esperemos que este ano haja uma outra edição deste evento em Portugal!

1 comentário:

arojas disse...

Olá Juliana, achei super interessante o projeto, vc sabe se ele existe aqui na Inglaterra? Bjs Ana Rojas