domingo, maio 05, 2019

Aceitação, Superação, Improvisação, Solidão, Estereotipação... uma questão de bom senso ou senso comum?

Pelo jeito, nenhum dos dois.
Estive ontem na Primeira Edição do TEDxULisboa que, para quem não sabe, trata-se de uma série de conferências, já realizada em diversos países, destinada a disseminação de ideias (TED significa Technology, Entertainment, Design), que foi criada em 1984 por uma organização sem fins lucrativos, a Sapling nos Estados Unidos, para debater tecnologia e design. No entanto, com o tempo, os temas abordados por essas "talks" de no máximo 18 minutos, passaram a ser os mais variados possíveis, e, se calhar, é aí que está o "x" da questão (aliás, o "x", em TEDx, quer dizer que o evento é organizado de forma independente, o que, por um lado, dá mais liberdade para os países  tratarem temas mais próximos das suas realidades, mas, por outro lado, pode desvirtuar-se, um pouco, da ideia original). A meu ver, o TEDxULisboa, ao tratar de temas como, a "aceitação da homossexualidade", "a manutenção da motivação para a superação de problemas", "a importância da improvisação na vida", "a solidão de jovens, adultos e idosos" e a "estereotipação da ciência e dos cientistas em Portugal", entre outros, deixa um misto de sentimentos:
- Por um lado, preocupa-me que esse tipo de debate, para mim tão básico e óbvio (mas admito que talvez sinta isso devido a minha idade) seja tão necessário (visto a quantidade de jovens presentes), e seja tão ovacionado por jovens que parecem terem ouvido determinados "clichês" (que, à mim, remetem à questões de bom senso ou de senso comum) pela primeira vez.
- Por outro lado, se, de facto, existe este "gap" na juventude, ainda bem que existem eventos como esse (na minha época a gente ia para psicólogo mesmo!).
É preciso, no entanto, diferenciar "bom senso" de "senso comum". Enquanto o último pode refletir uma opinião, que as vezes até pode estar errada ou carregada de preconceito, o primeiro está ligado a ideia de sensatez, ou seja, a capacidade intuitiva de distinguir a melhor conduta em determinadas situações. Resumindo, enquanto o "senso comum" acaba por ser o modo de pensar da maioria das pessoas, de uma comunidade, de uma sociedade, num determinado período de tempo (tendo como base o conhecimento adquirido pelo homem a partir das suas experiências, vivências e observações), o "bom senso", como disse Aristóteles " é o elemento central da conduta ética".
Neste contexto, pode-se dizer que o TEDx vem para debater o "senso comum", colocando em causa determinados paradigmas (o que não é mal, desde que se tenha cuidado com as ideias que são disseminadas e com quem as dissemina, ou seja, desde que não coloque em causa o "bom senso" das pessoas), mas acaba por debater, também, o "bom senso", ou seja, a conduta ética do que podemos ou não fazer, visto que, atualmente, estas condutas também passaram a ser questionadas (e, nesse aspecto, já não sei se isto é tão bom…)
Mas a questão de fundo aqui não é a capacidade dessas palestras fazerem com que os jovens pensem em ideias que possam alterar o "senso comum", mas sim, em ter que haver palestras como estas para fazer com que os jovens pensem e debatam sobre determinados assuntos, questionem o "senso comum", e "aprendam" a ter "bom senso".
A questão é o TEDx em Lisboa, e em 2019, parecer mais um evento de "autoajuda", não muito diferente de quando vamos à missa de um padre mais moderno nos dias de hoje, e o quanto estes jovens parecem precisar de ajuda. Ainda que toda a ideia de moral tenha advindo da religiosidade, como devido ao seu caráter utilitário esta ideia tornou-se secular (Max Weber), as demandas morais quando descumpridas passaram a despertar os sentimentos de culpa, ressentimento e autodesvalorização (Jessé Souza), e, ao que tudo indica, a humanidade ainda precisa de ajuda para lidar com isso.
Sobre Solidão em adultos...

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