sexta-feira, maio 10, 2019

Por que e Para que uma Feira do Empreendedorismo Migrante?


O fim de semana passado estive na segunda edição da Feira do Empreendedorismo Migrante (FEM), promovida pela Associação Lusofonia Cultura e Cidadania, que aconteceu nos jardins do Palácio Pimentel/ Museu de Lisboa (o lugar em sí já valeu o passeio!). Mas a par das tradicionais “barraquinhas”, com artesanatos e iguarias de diversos países, esta feira foi mais um ponto de encontro entre pessoas de várias nacionalidades, com ideias empreendedoras, muitas das quais ainda em estado embrionário.
Por um lado, foi interessante observar um aumento de indivíduos de nacionalidades que, até então, não eram muito expressivas em Portugal, como venezuelanos, colombianos, filipinos, etc. Por outro lado, e tendo em conta que, segundo o site do evento, esta feira contou com o dobro de expositores do ano passado (cerca de 100), notou-se também uma maior incidência dos indivíduos dos países lusófonos, até mesmo pelo número de startups que têm surgido com os olhos postos nos mercados africano e brasileiro.
Marcelo Roriz, por exemplo, consultor migratório da empresa “Consultoria em Portugal”, revelou que, apesar de prestar serviços para imigrantes de qualquer nacionalidade, atualmente são os brasileiros, com um nível socioeconómico mais elevado, que mais os têm procurado. Este tipo de consultoria é prestada para indivíduos que ainda se encontram no Brasil, e desejam investir, trabalhar, estudar e viver legalmente em Portugal. No entanto, e tendo em vista a alta dos preços no mercado imobiliário em Lisboa, Marcelo também disse que, neste momento, a procura tem sido maior pela zona de Setúbal. “Só no próximo mês iremos receber 170 brasileiros, que já vêm com as situações regularizadas e as casas arrendadas”, revelou.
De facto, diversas têm sido as notícias que têm dado conta do aumento da comunidade brasileira em Portugal. Só os Jornais Diário de Notícias (em Portugal) e Folha de São Paulo (no Brasil) publicaram, no passado mês de Abril, 11 notícias sobre brasileiros em Portugal. Entre estas, o tema mais abordado prendeu-se, justamente, com o aumento desta comunidade no país. Daí o porque deste tipo de feira ser necessária. O número de estrangeiros residentes em Portugal voltou a crescer (de acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2017) e, entre eles, o número de brasileiros (5,1% a mais do que em 2016, totalizando 85.426). Destes, muitos têm vindo com o intuito de investir no país (o número de vistos para independentes e investidores duplicou de 2016 para 2017, segundo o Relatório Estatístico Anual de 2018 do Observatório das Migrações). Por isso, o principal objetivo da FEM foi “disponibilizar apoio, divulgação, promoção, formação, desenvolvimento de competências, para que estes indivíduos possam criar os seus negócios, redes de contatos e oportunidades de financiamento e investimento”.
No entanto, entre a necessidade de se existir eventos como este (por que) e os mesmos conseguirem atingir os objetivos a que se propuseram (para que), existe uma grande diferença: Vejamos, por exemplo, o caso de um projeto bastante interessante: o “Empreendedor Online.com”. Trata-se de um serviço de apoio à divulgação de negócios na Web, que além de desenvolver e administrar websites, pretende oferecer consultores especializados na área do cliente, a fim de maximizar a eficácia do negócio. Neste sentido, especialistas de diversas áreas poderão se unir ao projeto, enquanto “associado” ou “mentor social”, e prestar os seus serviços quando solicitados. É, sem dúvida, uma ideia bastante boa, mas que ainda precisa de apoio, sobretudo quanto a sua divulgação e promoção. E digo isto em tom de crítica construtiva, porque penso que uma empresa que pretende prestar um serviço de comunicação, deve tomar mais cuidado ao divulgar um folder explicativo escrito, “Saiba mais em: Projeto Empreendedores Online.com”, quando na realidade o nome do projeto - aquele que iremos pesquisar na Net - é Empreendedor (no singular e não no plural). Neste sentido, é para isso que servem estas feiras: Para darem este tipo de feedback e, assim, fazerem com que ideias giras como essa sejam trabalhadas e possam vingar no futuro.
É preciso, por exemplo, estar mais atento à comunicação, divulgação, e mesmo aproximação com um potencial cliente. Um dos expositores que chamou a minha atenção na FEM foi a “Associação Adoro Ser Mulher” - uma associação que pretende unir em rede o empreendedorismo feminino dos países e comunidades lusófonas. Lá também recebi um folder explicativo mas, diferentemente do que se passou no stand do “Empreendedor.com”, em nenhum momento, nenhuma das mulheres da “Adoro ser Mulher”, veio ter comigo para saber se eu pretendia maiores informações. Para um evento onde se pretende fazer networking, não achei essa postura muito produtiva, o que, uma vez mais, reforça a necessidade de uma maior disseminação deste tipo de eventos para o desenvolvimento de competências, sobretudo sociais e de gestão, que posteriormente poderão consolidar ideias. 
Apesar de em Portugal já estarmos mais habituados e ver coxinhas de galinha e pão de queijo à venda nos cafés, os imigrantes que para cá têm vindo almejam investir para além da restauração. É certo que muitos destes empreendedores não o eram em seus países de origem e que, por isso, apesar de boas e inovadoras ideias, poderão não saber colocá-las em prática. Se já é difícil fazer vingar um negócio no seu próprio país, cujas necessidades e a cultura da comunidade se conhece a partida, quão mais difícil será fazer isso em outro país?

1 comentário:

Ive e Juli disse...

Olá Juliana, tudo bem contigo?

Gostei muito do seu texto. Explicou de maneira clara e bem didática as necessidades e objetivos de eventos como a FEM. Atualmente me encontro dentre os brasileiros que estão regularizando documentação para tentar iniciar uma nova vida com mais oportunidades e igualdades em terras Lusitanas. E a mesma observação que fizestes, eu támbem percebo, sobre a questão de muitos imigrantes levarem consigo as boas ideias, porém não tem o cuidado de pensar e/ou estudar se essa ideia de negócio cabe para o modo de vida, cultura (valores, costumes e organizações sociais) do novo país que agora habita. Mesmo viajando a turismo, por onde eu vá, gosto antes pesquisar sobre a história e cultura dos lugares. Além disso, temos que respeitar o povo local, sem julgarmo-nos melhores ou piores, somos apenas diferentes (e as vezes nem tanto). Precisamos saber que essa diferença é o que nos enriquece enquanto seres humanos. Parabéns pelo texto!