quarta-feira, abril 15, 2020

Como ficar em casa sem enlouquecer - Episódio 6 - Desista de não enlouquecer!

Hoje faz 33 dias que não saio de casa… Para falar a verdade, saí, uma única vez, para ir à farmácia. Como não gostei do que vi (lojas, restaurantes e cafés fechados; farmácias e supermercados com filas à porta; e alguns grupinhos de pessoas que insistem em ficar juntos, na praça, conversando), resolvi não sair mais. O meu receio, agora, é que quando seja possível sair, eu já não queira… Tenho trabalhado muito isso na minha cabeça, sobretudo porque, por mais que eu tenha procurado manter a minha rotina, e por mais que eu tenha começado a me exercitar através de vídeos de yoga e pilates no Youtube, fisicamente não estou bem… Sinto-me sem resistência física, como se o simples facto de levantar do sofá, ou da cadeira em frente ao computador, onde passo a maior parte do dia, fosse um grande esforço para mim. Enfim… toda essa introdução foi para justificar aos meus poucos, mas fiéis, leitores porque deixei de conseguir rir disso tudo, apesar de, racionalmente, ainda achar que "rir é o melhor remédio".
Mas hoje, estimulada por um texto muito bom que uma amiga escreveu no Facebook, me apeteceu escrever… Apeteceu-me escrever porque continuo a achar que manter uma rotina é importante, mas porque também tem dias que não consigo mantê-la. Apeteceu-me escrever porque continuo a achar que devo manter-me produtiva, mas porque também tem dias que não consigo produzir. Apeteceu-me escrever porque, apesar de continuar a achar "normal" nos cobrarmos, passei a achar, cada vez mais "normal", nos "perdoarmos" por não conseguirmos manter uma rotina e produzir como se tudo estivesse normal. Não, não está nada normal. 
Não é normal não ter mais aquelas dezenas de programas sobre futebol em diversos canais, apesar de isso ser uma das poucas coisas que eu considero positiva nessa crise toda;
Nao é normal, mas é compreensível, eu ter engordado 3 quilos desde que tudo isso começou, sobretudo nas últimas semanas, quando deixei de controlar a minha alimentação e comecei a comer aquilo que dá prazer...
Não é normal, mas também é compreensível, eu não conseguir focar-me e produzir como eu gostaria, uma vez que tenho trabalho só até Julho, não tenho perspectivas do que irei fazer profissionalmente a partir de Agosto, e as atuais circunstâncias não são muito promissoras neste aspecto… Hoje escutei o Presidente do Sindicato dos Funcionários das Escolas Públicas dizer que muitos destes funcionários com contrato a termo nos últimos 3 anos, e cujo mesmo acaba em julho, a partir de agosto estarão desempregados porque o governo não prevê (pelo menos até agora) um concurso para coloca-los nos quadros do funcionalismo público. Pois bem, bem vindo ao meu mundo! Não, não são só os funcionários das Escolas Públicas de Portugal que irão ficar desempregados e sem perspectivas de emprego. São muito mais pessoas, das mais variadas profissões, e muitas das quais, inclusive, já se encontram nessa situação  Por isso, este problema, infelizmente, não é um privilégio dessa categoria profissional.
Também não acho normal, mas acho saudável, eu, talvez para me sentir mais produtiva e a fazer algo que realmente interessa nesse momento, ter criado um estudo sobre "O impacto da COVID-19 nos estudantes internacionais e estrangeiros em Portugal", de uma forma totalmente voluntária, sem ganhar absolutamente nada com isso, e tendo imenso trabalho para fazer. Racionalmente eu me pergunto, porque resolvi fazer isso, tendo tanto trabalho, tendo que ler e escrever artigos científicos, sem ser remunerada para tal, enfim… e tendo já tantas outras obrigações? A única resposta que consigo encontrar para isso é: O que é mais importante nesse momento? Se esse não é um momento "normal" das nossas vidas, não temos que ser "normais" e continuar a fazer o que seria "o normal".
Não, não temos que nos cobrar mais, não temos que produzir mais, não temos que estar bem o tempo todo, nem rir dessa desgraça o tempo todo. Não temos que ter uma rotina sempre, nem uma alimentação saudável sempre, e nem fazer exercícios todos os dias. Ficar em casa, sem enlouquecer, requer muito mais do que regras… Requer paz de espírito, pensamento positivo, acreditar que tudo vai ficar bem, o que, nesse momento, é quase impossível para aqueles que se dizem "normais". Portanto, entregue-se a insanidade mental do momento! Sim, você vai enlouquecer, e sim, isso será "normal"!
Continue em casa, porque isso agora é o "normal"


1 comentário:

Unknown disse...

Sem duvida daqui prá frente , a vida será diferente do que vivíamos . Teremos que nos adaptar.e encontrar novas perspectivas que nos farão continuar a viver de forma a nos realizar como pessoas humanas que somos. Com nossos sonhos, desejos,valores, prazeres, sem perdermos nossa essência, mantendo nossa capacidade de nos sentirmos felizes e realizados como pessoa humana mantendo a sua dignidade.