Mineira, de Belo Horizonte, é a primeira proprietário brasileira de um Hostel, em Lisboa
Por Juliana Iorio
Débora Santos resolveu mudar de vida aos 34 anos. Natural de Belo Horizonte, divorciada há 16 anos, e com dois filhos que na época tinham 13 e 14 anos, respectivamente, em 2004 decidiu ir para Lisboa (Portugal), onde já tinha alguns conhecidos, e começar do zero. “Eu queria mudar de vida! Já tinha recusado uma proposta de sair do país, mas desta vez eu queria mesmo ir”, referiu. “Sempre tive uma vida boa no Brasil e a minha família achava que eu não deveria embarcar nessa aventura”, continuou.
Mas Débora estava mesmo decidida a ir viver num país totalmente desconhecido. Chegou em Lisboa sem nada definido e foi trabalhar como faxineira. “Meus amigos perguntavam porquê eu estava fazendo isso e a minha família queria que eu voltasse”, contou. “Mas após os dois primeiros meses eu tive a certeza de que queria ficar”, reiterou.
Hoje, há 7 anos em Portugal, Débora é proprietária do “Lisbon Landscape Backpackers' Flat”, um hostel situado no coração da cidade e o único cuja proprietária é uma mulher brasileira.
Como tudo começou
Débora trabalhou como faxineira em diversos lugares de Lisboa até que resolveu colocar um anúncio no jornal onde se oferecia para fazer limpezas. “Aí que aconteceu a grande mudança na minha vida”, enfatizou. “Nesta época estava abrindo o primeiro hostel em Lisboa e o proprietário me contratou”, explicou.
Até então, esta mineira nunca tinha ouvido falar no conceito de “hostel”. Isto foi em 2006 e Débora trabalhou lá durante 4 anos. “Uma vez a polícia apareceu lá, e como eu estava ilegal, eles me pegaram. Neste dia, o proprietário do hostel resolveu me legalizar”, recordou. Durante os 4 anos que lá ficou, Débora passou de simples faxineira a encarregada de todo hostel e aprendeu a falar inglês. Por isso, após esse período, achou que havia chegado o momento de dar um “salto” maior na sua vida profissional. “Eu sabia que podia dar mais, mas também sabia que o proprietário do hostel não podia me oferecer mais”, referiu. Assim, no final de 2009 Débora deixou o hostel sem saber ao certo o que iria fazer. “Nesta época eu estava pensando em ir embora de Portugal”, confessou. “Eu pensava em ir para a Inglaterra, já tinha até trabalho, casa, tudo. Mas como um dos meus filhos queria ficar, continuou a trabalhar para este hostel, inclusive trabalha lá até hoje, eu acabei por desistir”, continuou.
Disponível para o mercado de trabalho português, mas sem muitas perspectivas de emprego devido à crise que assolou toda a Europa neste período, essa mineira de Belo Horizonte pensou, então, em montar o sue próprio negócio. Devido à experiência acumulada ao longo dos últimos anos, decidiu, então, que iria abrir o seu próprio hostel. “Consegui um financiamento do Banco do Brasil e do banco português Millenium, pedi orientação para o Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural (ACIDI), em Lisboa, aluguei esse espaço e o “Lisbon Landscape Backpackers' Flat”começou a funcionar no dia 15 de Maio do ano passado”, contou. “Graças à Deus estamos tendo muito sucesso! O ACIDI já veio conhecer o espaço e depois disso já nos indicou muitos hóspedes”, continuou.
Débora disse que quando pensou em abrir o hostel, sabia que neste meio, a crise não chegaria. “Eu não dependo de pessoas de Portugal e nem da Europa, exclusivamente. Recebo pessoas do mundo inteiro. Por outro lado, a crise até favorece porque as pessoas acabam procurando lugares mais baratos. Aqui, além de terem um preço mais barato, as pessoas podem economizar cozinhando, lavando roupa, etc”, concluiu.
Hostel – O Conceito
“Hostel é uma hospedagem “low cost”. Não é um hotel, não é uma pensão, não aluga-se quartos. Aluga-se camas”, definiu a proprietária do “Lisbon Landscape Backpackers' Flat”.
Trata-se de um apartamento com 4 quartos que comportam, ao todo, 22 camas. Os outros cómodos são de uso comum e a limpeza é assegurada pelo hostel. Além de cozinha, banheiros e uma área de serviço totalmente equipada, este hostel oferece acesso à Internet e possui uma varanda com uma belíssima vista sobre a cidade de Lisboa. “Muitas vezes as pessoas preferem os hostels não só por causa do preço, mas porque querem conviver com outras pessoas”, explicou. “Fazemos passeios a noite, jantares… ontem mesmo teve um “sarau” aqui e todos os hóspedes participaram”, enfatizou.
O café da manhã é oferecido pelo hostel, mas as outras refeições são confeccionadas pelos próprios hóspedes. “Já tivemos hóspedes que viveram quase um ano aqui e foi horrível quando foram embora”, salientou. A população mais jovem (com idades entre os 18 e os 35 anos) é mais adepta deste tipo de acomodação. No entanto, garante Débora, “já tivemos hóspedes com 75 anos que prometeram que irão voltar!”
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