domingo, março 15, 2020

Será preciso fechar as fronteiras porque o bom senso não é suficiente?

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Ficar em casa para mim nunca foi um problema. Há anos que eu trabalho em casa, e para falar a verdade, adoro. Só que existe uma diferença em você ficar em casa porque quer e você ser obrigada a ficar em casa. É como quando não fazemos dieta mas não nos apetece comer determinadas coisas que só temos vontade de comer quando não podemos! O ser humano é mesmo estranho… Fim de semana passado, quando o COVID 19 ainda não havia colocado Portugal em estado de alerta, eu saí sábado e domingo para almoçar fora. Lembro-me de ter pensado: "Isso não pode ser! Sair sábado e domingo para mim é demais! Fim de semana que vem não vou querer sair de casa!" Bem… parece que Deus ouviu as minhas preces! Só que agora, que sou obrigada a ficar em casa, a coisa muda de figura… Então quer dizer que nem ao ginásio e nem à missa poderei ir? NÃO, NÃO PODEREI (e não irei). Finalmente, hoje, dia 15 de Março de 2020, recebo a informação de que o meu ginásio estará fechado por tempo indeterminado, e no site da Igreja que costumo frequentar de que as missas estarão suspensas, por tempo também indeterminado.

É assustador o quanto a nossa vida pode mudar de uma semana para a outra. E o mais assustador é que só nos damos conta disso quando somos confrontados, subitamente, com a inevitabilidade da mudança. Só nos damos conta do quanto o mundo, em pleno século XXI, está despreparado para lidar com essas coisas, quando elas acontecem. Só nos damos conta da nossa falibilidade enquanto Doutores, quando a medicina, em pleno século XXI, se depara com casos que não consegue resolver.

Muito se tem dito sobre o facto de não se dever alarmar as pessoas para não instauramos o pânico. Pelo que tenho visto nesta última semana, mesmo com o alarme gritando em todos os jornais, canais de televisão e redes sociais, há ainda quem não esteja alarmado o suficiente. Nem o tão falado "açambarcamento", palavra que eu, na minha ignorância, tive que procurar o seu significado (e em minha defesa digo que isso talvez tenha acontecido por não ser uma palavra muito usada no Brasil), parece que assustou as milhares de pessoas que continuam a ir às praias (e aqui não falo só às praias portuguesa, mas também às praias brasileiras). E quando o alarme não é o suficiente para ativar o bom senso das pessoas, deparo-me sendo a favor de medidas proibitivas que, normalmente, uma adepta de regimes democráticos como eu, não costumaria apoiar. Será que será preciso fechar fronteiras e proibir que as pessoas saiam de casa, porque o bom senso não é suficiente para limitar a liberdade de ir e vir?

Quantas pessoas terão de morrer para que as pessoas entendam a gravidade do que estamos a passar? Desculpem-me o alarmismo, mas prefiro-vos alarmados, em pânico, mas vivos, do que tranquilos e mortos.

Penso que todo mundo tem um parente, um amigo ou conhecido médico que já está mais inteirado do COVID 19. Portanto, se não acreditam nas informações "alarmantes" que têm recebido, conversem com esses profissionais porque eles poderão vos elucidar da gravidade do que se está a passar. Se o facto de, em 900 anos de existência, NUNCA uma missa ter sido suspensa em Portugal não for o suficiente para vos assustar, sinceramente, eu não sei o que vos poderá assustar. Ainda assim, conversem com um médico. Os amigos médicos que tenho estão em pânico por dois motivos: (1) Esse virus causa insuficiência respiratória e os hospitais em todo mundo não têm máquinas para ventilar todos os doentes que delas irão precisar. Logo, terão sim de fazer escolhas. Aqueles que ficarem ligados às máquinas, terão mais chances de sobreviver. (2) Ainda que sobrevivamos, trata-se de um vírus cujas sequelas para os pulmões serão irreversíveis. Portanto, ainda que seja muito pouco provável que consigamos escapar à contaminação, (1) se contrairmos o vírus numa fase em que a pandemia estiver mais controlada, e precisarmos de uma máquina de ventilação, será mais provável termos acesso à ela. (2) Se mantivermos o nosso sistema imunitário mais fortalecido, poderá ser que os danos em nosso pulmões sejam menores.

Portanto, protejam-se, fortaleçam o vosso sistema imunitário, e tentem ficar em casa para não contrair o vírus, pelo menos por agora.

Não, não vai ser fácil famílias inteiras ficarem trancadas dentro de casa durante tantos dias. Como ouvi um comentador dizer: Provavelmente muitos divórcios acontecerão fruto dessa obrigatoriedade! Mas, brincadeiras à parte, pensemos pelo lado positivo! (1) Ainda podemos abrir as janelas, ir para as varandas e tomar sol! Esse vírus não se propaga pelo ar, de modo que ainda poderemos ter uma vida social, nem que seja à janela! (2) Viva as novas (já não tão novas assim!) Tecnologias da Informação e da Comunicação! Graças à elas, hoje podemos fazer vídeos conferências, falar com pessoas que estão no outro lado do mundo, e não nos sentirmos tão sós! Na realidade, somos uns sortudos! Até concertos online, gratuitos e no conforto do nosso lar, temos a sorte de ter! Obrigada Salvador Sobral pelo Concerto de sábado, dia 14, à noite. (3) Também temos a sorte de, à distância de um clique, conseguirmos comprar o que necessitamos, sem precisar ir ao supermercado. Hoje, muito diferente de muito pouco tempo atrás, não precisamos estar em "bunkers" e nem fazer stocks de enlatados e papel higiénico! Ou seja, não precisamos açambarcar! Já agora:

açambarcar



a.çam.bar.car

verbo transitivo
1.
comprar e reter quantidades elevadas de mercadorias com o fim de, pela escassez, fazer subir os seus preços no mercado
2.
monopolizarapropriar-se de

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