Começamos o ano "brincando" com o facto de ter que ficar em casa, e a meio do ano, ainda que em Portugal tenha havido alguma abertura, já ninguém mais achava graça em ter que ficar em casa, e nas "vantagens" de se ficar em casa. Assim, passamos do "como ficar em casa sem enlouquecer", para um "confinamento enlouquecedor" e, posteriormente, para um "desconfinamento mais enlouquecedor ainda, nesse novo normal".
Não estou dizendo com isso que "não vai ficar tudo bem", mas que, nesse momento, "nem tudo vai ficar bem" (pelo menos não "tão bem" como achávamos que estava antes).
Podemos dizer que:
- #vaificartudobem porque encontraram uma vacina, mas #nãovaitudobem porque a sociedade percebeu o quão vulnerável é.
- #vaificartudobem, porque as crianças aprenderam a estudar em casa, a brincar em casa, e talvez para elas, trabalhar em casa no futuro seja menos penoso do que para os adultos de hoje, mas #nãovaificartudobem, porque essas mesmas crianças, ao ficarem em casa agarradas ao computador, tablet e telemóvel, não poderão ter o mesmo desenvolvimento nas relações interpessoais, do que crianças que se desenvolveram em ambientes de socialização.
- #vaificartudobem porque as crianças que conseguiram estudar em casa, tiveram que adquirir um maior senso de organização e responsabilidade, mas #nãovaificartudobem, porque as crianças que não conseguiram o mesmo aproveitamento escolar a partir de casa, muitas vezes porque os pais não lhes puderam dar a devida atenção, não terão o mesmo desenvolvimento do que aquelas que tiveram a sorte de ter pais mais presentes.
- #vaificartudobem para as crianças que perceberam o que se estava a passar, e adotaram hábitos de higiene mais saudáveis, como lavar as mãos com mais frequência, mas #nãovaificartudobem para as crianças que adquiriram uma espécie de Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) ao terem que lavar as mãos a todo o momento.
- #vaificartudobem, porque conheço pessoas que tiveram a COVID, venceram a COVID e estão se recuperando, mas #nãovaificartudobem, porque também perdi pessoas para a COVID. E apesar de saber que todos nós perderemos pessoas queridas um dia, perder alguém para a COVID deixa aquela sensação eterna de: "E se não fosse a COVID? Será que aquela pessoa teria morrido agora?"
Aprendemos, a duras penas, que nada, mas nada mesmo importa, quando a vida daqueles que amamos está em jogo. As preocupações com todo o resto ficam tão pequenas e sem sentido diante da possibilidade de perdemos alguém que amamos, que as nossas prioridades, os nossos valores, simplesmente já não são os mesmos.
Por isso, as sequelas de 2020 passam pelas mudanças de atitude que, a partir de agora, consciente ou inconscientemente, todos nós teremos diante da vida.
Pensando nisso, o meu desejo para este Natal, e para o novo ano que se advinha, é que a COVID-19 tenha trazido mudanças que, realmente, contribuam para que #fiquetudobem. Para que #fiquetudorealmentebem... #bemmelhordoqueeraantes!
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